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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Menino de Brescia: paixão pela bola move Balotelli de Concesio à Azzurra.

Fã de Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho na juventude, atacante é referência na seleção italiana pelo que tem de mais constante, o amor ao futebol.

Explosivo, gênio, rebelde, excêntrico, extravagante. Parecem faltar adjetivos para definir Balotelli pelo seu comportamento irascível dentro e fora de campo. Mas, na essência, o atacante italiano é um menino de Concesio, na província de Brescia, norte da Itália, criado num ambiente simples, ligado à igreja e ao futebol. Ligado fortemente ainda a essa origem, Mario mantém até hoje o que parece ser o mais constante em sua vida, o que realmente lhe proporcionou sucesso, dinheiro e fama: a paixão pela bola.
Balotelli deixou Brescia há sete anos, quando foi viver em Milão, distante cerca de cem quilômetros. Mas, desde então, Mario, de Concesio, sempre é visto com frequência na cidade, na casa do pai e da mãe. Passa fins de semana no bairro, dorme num quarto com duas camas de solteiro, sem luxos, passeia com o cachorro, os amigos de infância, assiste a jogos de futebol do Brescia no estádio e compra até cigarros na tabacaria. Seus costumes são semelhantes aos de um jovem qualquer de 22 anos. Porém, quando está em Concesio, é fácil ser notado (veja ao lado o vídeo do gol do atacante contra o Japão na última quarta).
- Todo mundo sabe quando ele está na vila. Nós escutamos o barulho do motor da Ferrari. Às vezes, traz uma vermelha, outras vezes, uma branca. E não dirige propriamente devagar aí pelas ruas - comenta a empregada de um café de Concesio que garante não se alegrar com a excêntrica presença do jogador do Milan no bairro.
Mosaico Balotelli infância futebol (Foto: Editoria de Arte)
Infância difícil
O Balotelli milionário não teve um início de vida fácil. Natural de Palermo, maior cidade da ilha de Sicília, no Sul da Itália, filho de Thomas e Rose Barwuah, dois imigrantes ganeses, foi adotado e cresceu no seio de uma família italiana. Por causa de problemas intestinais desde o nascimento, que se complicaram nos primeiros anos de vida, seus pais biológicos se mudaram para Bagnolo Mella, na província bresciana, mas tiveram de recorrer à ajuda dos serviços sociais, porque não conseguiam cuidar do menino.
Marino Bossini, motorista do Lumezzanne, time que
Balotelli jogou em Brescia (Foto: Claudia Garcia)
Mario foi acolhido por uma família italiana, envolvida em causas sociais com crianças carentes. Mas com ele foi diferente. Mesmo com três filhos, a família de Franco e Silvia Balotelli se apegou ao menino. Até que o casal decidiu pedir sua adoção definitiva. Cuidaram e financiaram sua cura e até hoje são os que o jogador reconhece como os verdadeiros pais.
Dos parentes biológicos e o motivo do afastamento, ninguém conhece os detalhes. Vizinhos e conhecidos de Brescia se dividem: alguns dizem que os Balotelli levavam Mario para visitar os Barwuah com frequência, e estes não queriam saber dele. Outros defendem que os pais sempre quiseram ter contato com o menino, mas simplesmente não tinham dinheiro para pagar o seu tratamento.
Mario foi batizado pela família adotiva com os dois sobrenomes: Barwuah e Balotelli. Porém, o menino de Concesio não permitia que ninguém o chamasse pelo nome de origem ganesa. Ele queria ser chamado só como italiano.
Marino Bossini infância Balotelli clube cidade  (Foto: Claudia Garcia)
Marino Bossini, motorista do Lumezzanne, time que Balotelli jogou em Brescia (Foto: Claudia Garcia)
Os outros moleques quando queriam provocá-lo o chamavam de Barwuah. Ele ficava nervoso. Repetia várias vezes: 'Eu não sou Barwuah, sou Balotelli'
- Os outros moleques quando queriam provocá-lo o chamavam de Barwuah. Ele ficava nervoso. Repetia várias vezes: "Eu não sou Barwuah, sou Balotelli" - conta o senhor Marino Bossini, motorista voluntário do clube de futebol Lumezzanne, onde Balotelli jogou desde os 11 anos.
Nos últimos anos, o centroavante do Milan e da seleção se reaproximou dos irmãos biológicos, Enock, Abigail e Angel Barwua, mas nem quer ouvir falar dos pais que ainda residem na província bresciana - são três também os adotivos Giovanni, Corrado e a jornalista Cristina Balotelli. Procurada pela reportagem, a família italiana não quis dar entrevista.
No clube Lumezzane e no oratório de Concesio, onde o jogador passou parte da infância e adolescência, os mais próximos garantem que Mario nunca falava dos pais e irmãos biológicos (veja ao lado o vídeo do gol do camisa 9 contra o México no último domingo).
– Ele era um menino normal, um pouco impulsivo e irrequieto, mas como tantos outros. Aqui, ele nunca foi discriminado por ser adotado, até porque havia outras crianças nessa situação. Mas sabíamos que ele sofria com isso. Nunca quis falar sobre a família biológica, e a mãe Silvia ainda hoje nos diz que ele sofreu muito na infância pelo fato de ser adotado - afirma, sem querer ser identificada, a responsável pelo oratório (espécie de paróquia de Igreja Católica, típica das cidades italianas) que Mario frequentou até ir para o Internazionale, com 16 anos.
oratório de Concesio infância Balotelli cidade  (Foto: Claudia Garcia)
Crianças brinca no oratório de Concesio,
onde Mario passou boa parte de sua infância
(Foto: Claudia Garcia)
Foi no oratório, com um amplo campo de futebol, bar, mesa de jogos, espaço para churrasco e sala de catequese que Mario passava parte dos seus dias, depois da escola e dos treinos no Lumezzane. A mãe, Silvia, dava catequese, e o filho, Mario, sempre a acompanhava. A cerca de um quilômetro dali, está a casa da família Balotelli, que fica mesmo em frente a um campo de futebol. Predestinado ou não, o certo é que a imagem do campo mexeu com ele. Desde criança, só queria uma coisa: jogar futebol. O sonho de ser jogador é normal entre os meninos, mas para Mario parecia ser mais do que isso.
– Todos os meninos sonham ser jogador de futebol, mas para Mario era mais do que um sonho, ele acreditava muito nas qualidades dele e ser esforçava mais do que os outros para realizar o seu sonho. Ele era maior e mais forte do que os garotos, mas também parecia mais esperto - afirma.
Todos os domingos, depois dos jogos, o senhor Bossini transportava as crianças até em casa. Momentos em que o jovem jogador com apenas 11 e 12 anos ficava apenas com a bola na mão, pensativo, e não partilhava dos mesmos interesses que os colegas.
- Ele nunca largava a bola nem faltava a um treino que fosse. Eu me lembro que, quando regressávamos dos jogos, os outros meninos já usavam o celular e falavam de mulheres. Ele, nada. Só queria saber da bola e ainda ia para o oratório jogar mais tarde.
oratório de Concesio infância Balotelli cidade  (Foto: Claudia Garcia)Campo do oratório de Concesio: palco dos primeiros jogos de Balotelli (Foto: Claudia Garcia)
Mario Balotelli que não pensa em mulheres? Parece piada, mas o garoto nunca passeou com namorada, tampouco falava muito com as outras meninas.
- Mulheres? Não, aqui ele nunca teve namoradas ou falava de outras meninas. Era sempre futebol, futebol... Nossa Senhora! Ele chutava a bola contra essas paredes e nós ficávamos loucas com ele. Ele ficava aí jogando até de noite, a mãe tinha de levá-lo para casa na marra, e depois ainda jogava no campo lá em frente da casa dele - afirmou Fulvia Boletti, de 55 anos, que há vários anos se dedica o tempo inteiro ao oratório de Concesio.
Quando a brincadeira virou coisa séria
Com o passar dos anos, Mario ia aperfeiçoando as suas técnicas, inspirado por dois brasileiros: Ronaldo, o fenômeno que brilhava no Internazionale, e mais tarde por Ronaldinho Gaúcho. Quis o destino que começasse sua carreira na mesma equipe onde um dos ídolos jogou.
- Não sei como é que ele agora diz que é torcedor do Milan. Aqui, ele nunca falava do Milan. Era sempre o Inter de Milão de Ronaldo. Ele era fã do Ronaldo - conta o senhor Bossini.
O único momento em que Mario não jogava futebol pelas ruas era quando assistia aos jogos do Fenômeno na televisão e no outro dia queria fazer igual nos treinos do Lumezzane.
Um dia ele chegou aqui para mim e disse: 'Você viu o duplo drible do Ronaldo ontem? Daqui a duas semanas no máximo vou fazer igual'. Ele ficava treinando, aperfeiçoando a sua técnica, que já era muita, e conseguia fazer mesmo"
Bossini, motorista do Lumezzane
- Um dia ele chegou aqui para mim e disse: "Você viu o duplo drible do Ronaldo ontem? Daqui a duas semanas no máximo vou fazer igual." Ele ficava treinando, aperfeiçoando a sua técnica, que já era muita, e conseguia fazer mesmo as habilidades do Ronaldo. Ele também tinha o hábito de treinar o chute depois do treino. Pegava numas 15 bolas e colocava todas à entrada da área e dizia para mim: "Agora vou acertar todas elas no travessão." E acertava umas sete, oito bolas, dá para acreditar? - conta com um sorriso nos lábios o senhor Bossini, que garante que nunca viu um talento igual ao de Balotelli em 20 anos no clube bresciano, onde outro astro da Azzurra foi revelado também, Alessandro Matri, do Juventus.
O talento de Mario era tanto como a sua vontade de jogar sempre. O menino do Lumezzane ganhava fama e era temido pelos outros jovens e seus pais de toda a região norte da Itália. Quando o clube disputava torneios juvenis contra Milan, Inter, Varese e Como, a curiosidade dos adversários era saber se Mario ia jogar.
- Ele sempre jogava, e os pais dos outros meninos diziam: "Ai não! Lá está o Mario...". Eles o temiam. Ele tinha 11, 12 anos e já fazia 20 gols por temporada. Era muito para um moleque daquela idade. Ele ia crescendo e ficava cada vez mais forte fisicamente, mas não como vocês veem agora. Isso só aconteceu depois de ir para o Inter mesmo - observa o motorista.

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